Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
26 de Abril de 2024

'Qualquer canto da Guarda do Embaú lembra o Ricardo', diz mãe de surfista

Ricardo dos Santos foi atingido por dois tiros e morreu na terça-feira (20). 'É ter justiça, é colocar a pessoa que fez isso na cadeia', pede Luciane.

Publicado por Gm M.
há 9 anos

Renan Koerich Do G1 SC, com informações do Globoesporte. Com/SC

Ainda buscando explicações para o que aconteceu, Luciane – mãe do surfista catarinense Ricardo dos Santos, morto na terça (20)– procura se manter forte. O adeus precoce a faz olhar sem um ponto fixo e questionar sem encontrar respostas. "Ele vai viver eternamente em nossas memórias. Qualquer canto da Guarda do Embaú lembra o Ricardo", balbucia a mãe, de 43 anos, sentada e com forças consumidas pela despedida inesperada.

Ricardo, de 24 anos, levou dois tiros na frente de casa após desentendimento com um policial militar. O soldado Luis Paulo Mota Brentano confessou ter feito os disparos, mas alegou legítima defesa.

A Justiça não vai trazer o filho de volta, mas representa, no mínimo, um "conforto" para a família. "É ter justiça, é colocar a pessoa que fez isso, uma pessoa sem alma, sem coração, é colocar na cadeia e que ele pague por isso", pede ela. "Apesar que não tem nada nesse mundo que cubra a dor de uma mãe que perde o seu filho."

Qualquer canto da Guarda do Emba lembra o Ricardo diz me de surfista

Família vive na Guarda do Embaú há 4 gerações (Foto: Renan Koerich/Globoesporte. Com)

O mar e a praia foram as primeiras paixões do rapaz. Desde os 4 anos, o filho mais velho de Luciane se agarrava à grade da varanda de casa para querer ir surfar: "'Ei moço, você está indo surfar? Posso ir contigo? Me leva junto'. Ele sempre foi apaixonado por isso", relembra as palavras do filho.

A família "dos Santos" vive na Guarda do Embaú, em Palhoça, município da Grande Florianópolis, há quatro gerações. Com uma casa encravada no morro que dá acesso à trilha que leva para a praia paradisíaca, nada mais natural que o instinto pedisse pelo mar. E foi ali, perto do mar, que Ricardinho teve a "sua finaleira" de uma vida intensa, apaixonada e repleta de amigos.

Aos 4 ou 5 anos, ele já estava surfando. "Quer dizer, já vem no sangue dele, desde criança mesmo. Eu 'brigava' com ele: 'Ricardo, presta atenção no que eu estou falando'. Ele pegava qualquer ponta de toalha, de pedaço de papel, e não prestava atenção no que eu estava falando, ele viajava nas ondas dele. Ele sempre foi focado nisso, toda a vida dele, isso aí já é de alma."

A mãe conta que, no início da carreira de Ricardinho, ficava preocupada porque "ele se atirava mesmo". "Me deu bastante medo, no início da carreira, quando ele começou a bombar mesmo, na Indonésia, no Havaí. Depois ele mesmo provou que ele era capaz de passar por isso e que eu não precisava ter esse medo. Ele conquistou essa confiança em mim. Aí, eu comecei a dar uma relaxada, mas a minha preocupação sempre existiu".

O apoio das pessoas impressionou a família, diz Luciane. "Fiquei muito impressionada, agradecida também. Foi uma emoção muito grande, mas como mãe eu me sinto aliviada, por uma certa parte, pelo fato de saber que ele era uma pessoa querida para todo mundo. Que ele parte desta vida deixando boas lembranças e bons momentos para todo mundo. Ricardo foi um grande guerreiro, um grande surfista, um grande exemplo para o mundo do surfe", afirma.

Qualquer canto da Guarda do Emba lembra o Ricardo diz me de surfista

Surfista morreu na terça-feira (20)(Foto: Henrique Pinguim/Divulgação)

Entenda o caso

Ricardinho e o policial Luis Paulo Mota Brentano se desentenderam em frente à casa do surfista, na Guarda do Embaú, na segunda-feira (19). O polícial confessou ter dado dois tiros na vítima.

As balas perfuraram vários órgãos internos de Ricardinho. Ele chegou a ser socorrido e passou por quatro cirurgias no Hospital Regional de São José, também na Grande Florianópolis, mas não resistiu. O surfista foi enterrado nesta quarta (21), em Paulo Lopes, cidade vizinha.

Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), um dos projéteis atingiu o lado esquerdo do corpo de Ricardo dos Santos, o atravessou e saiu pelo lado direito, perfurando órgãos internos. O outro tiro acertou as costas e a bala ficou alojada na vértebra lombar.

Essas informações, segundo a polícia, podem derrubar a versão dada pelo soldado de legítima defesa. O advogado de Brentano afirma que manterá o argumento que, segundo ele, independe da posição em que os dois estavam na hora dos tiros.

Diferentes versões

A polícia ainda não sabe o que causou o desentendimento entre Ricardinho e o PM. Em uma das versões, testemunhas dizem que o policial estaria consumindo drogas em frente à casa do surfista, o que teria causado do desentendimento entre os dois. O Instituto Geral de Perícias (IGP) de Florianópolis confirmou nesta quinta-feira (22) que o PM ingeriu álcool no dia do crime. O exame toxicológico não detectou o uso de outras drogas.

Outra versão indica que Ricardinho havia pedido para Brentano retirar o carro de cima de um cano na frente da casa do surfista, que ele e o avô precisavam consertar. Segundo moradores, o policial teria reagido de forma agressiva ao pedido, mas os dois chegaram a ter uma discussão.

Qualquer canto da Guarda do Emba lembra o Ricardo diz me de surfista

Mensagem de Ricardinho para um amigo, sobre o que desejava para a vida (Foto: Renan Koerich/Globoesporte. Com)

Quando todos achavam que o PM estava saindo com o veículo, ele sacou uma pistola e atirou duas vezes contra Ricardo. A polícia deve fazer uma reconstituição para confirmar o que realmente aconteceu.

Sobre a versão do PM de que Ricardinho o teria ameaçado com um facão, o delegado disse que os policiais que atenderam à ocorrência não apreenderam nenhum facão no local.

Prisão

Brentano foi preso em flagrante. Na noite de terça, ele foi transferido do Batalhão da Polícia Militar de Florianópolis para o 8º Batalhão de Joinville, no Norte do estado, onde está lotado desde 2008. O PM está detido por tempo indeterminado. O irmão dele, que é menor de idade e estava junto no carro quando houve os disparos, foi liberado e é considerado testemunha do caso.

O policial já respondeu a outros processos criminais – e foi absolvido em todos, segundo a PM. Ele será indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso qualificado. Em paralelo, o PM também responderá a um inquérito militar pelo mesmo crime.

FONTE

  • Sobre o autorEmpresário
  • Publicações1158
  • Seguidores302
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações690
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/qualquer-canto-da-guarda-do-embau-lembra-o-ricardo-diz-mae-de-surfista/162242716

Informações relacionadas

Silvimar Charlles, Bacharel em Direito
Artigoshá 2 anos

Policial, fora de serviço, que cause dano a terceiro com arma institucional, o Estado responde?

8 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

As autoridades brasileiras não podem assistirem de camarote tantas barbaridades de alguns bandidos vestidos de polícial, chega de homicídios por pessoas que tem o dever de zelar pela segurança do cidadão.
Devemos repensar um novo modelo de segurança pública? continuar lendo

Uma vergonha o que aconteceu,mas me parece que um traficante é mais considerado do que um surfista neste país. continuar lendo

Não foi atitude profissional, isso é fato, mesmo com facão, o protocolo de avisos antes de tiros não apareceu no cenário.
Não podemos generalizar dizendo que a corporação tem esse comportamento, por favor, isso seria muita ingenuidade... continuar lendo

Seria um tanto leviano pessoas que lutam por um direito, uma justiça, pré-julgar apenas com informações da mídia e muito sensacionalismo. Estudantes e praticantes de Direito já deveriam saber disso, mas é muito mais fácil seguir a modinha e culpar toda uma corporação. É dessa maneira que estão sendo formados os profissionais do direito, pouca leitura, pouco conhecimento, e muita manipulação; parece uma receita fácil "seguir a comoção social". Estudar, se ater aos fatos e buscar a verdade real é mais difícil, talvez por isso os "pseudo-profissionais do direito" seguem o fluxo da mídia. continuar lendo

Quem conhece o mínimo que é a PM, sabe como eles agem, como são despreparados, desajustados, irresponsáveis..... Não é pré-julgar, é FATO!!
Não se está seguindo o sensacionalismo da mídia, mas analisando os FATOS: Uma pessoa ARMADA só vai responder à tiros se estiver ameaçado de vida. Mas o rapaz estava DESARMADO!! continuar lendo

Oscar Machado, não há fatos quando você está generalizando. A PMSC possui uma das escolas policiais mais conceituadas do Brasil. Por favor, estude um pouco. Gostaria de trocar conhecimentos neste espaço, não xingamentos. Atente-se para o que fala. continuar lendo