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19 de Abril de 2024

O evangelho segundo Capitão Nascimento

A Igreja Universal monta exército da fé para arregimentar jovens fiéis

Publicado por Gm M.
há 9 anos

Por Miguel Martins — publicado 18/03/2015 05:02

O evangelho segundo Capito Nascimento

Os recrutas bélicos abusam do liguajar bélico. Segundo a igreja, é só coreografia

Este projeto vai arrebentar, pois missão dada é missão cumprida”, escreve uma jovem da Universal do Reino de Deus na página oficial da igreja na internet. Versões semelhantes do comentário, geralmente paráfrases de diálogos do filme Tropa de Elite, de José Padilha, têm sido usadas com frequência pelos fiéis para se referir ao projeto Gladiadores do Altar, nova iniciativa da igreja comandada pelo bispo Edir Macedo para arrebanhar a juventude. Braço da instituição conhecido por organizar eventos religiosos antidrogas e esportivos, a Força Jovem Universal decidiu apelar à simbologia militar para projetar uma nova geração de pastores e evangelizadores. Perto de 4,3 mil homens brasileiros de até 26 anos integram o polêmico projeto que mistura disciplina bélica com pregação religiosa.

Embora lançado em janeiro de 2015, o projeto ganhou destaque após o deputado Jean Wyllys, do PSOL, publicar no domingo 1º uma foto dos tais gladiadores enfileirados como um batalhão militar e um vídeo do ritual do grupo, reproduzido em diversos estados brasileiros, além de Argentina, Colômbia e alguns países africanos. Os fiéis do projeto vestem camisetas verdes com o brasão do grupo estampado nas costas. O símbolo apresenta as iniciais “G. A.” bordadas em um escudo atravessado por uma espada. Embora não se vejam coturnos, o conjunto finalizado com sapatos e calças pretas remete à imagem de tropas policiais ou militares.

No ritual registrado em diversos vídeos na internet, os gladiadores marcham pela igreja com sincronia e disciplina. Repetem, a pedido de um pastor-sargento, uma louvação a Deus que mais se assemelha a um ritual de iniciação para aspirantes do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar. Ao serem perguntados sobre o que querem, estendem os braços com o dedo em riste e apontam para o objetivo, enquanto repetem três vezes a plenos pulmões: “O altar, o altar, o altar”.

A liturgia militar adotada pelo grupo de formação de pastores da Universal levantou dúvidas sobre as reais intenções do projeto. “O fundamentalismo cristão no Brasil tem ameaçado as liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais laicas. Agora, ele forma uma milícia”, afirma Wyllys. Os gladiadores passaram a ser comparados na internet a terroristas do Estado Islâmico e a soldados de regimes totalitários, especialmente pelo gestual e uniforme adotados, que lembram, com exceção à ausência da gravata, os camisas-verdes do integralista Plínio Salgado, líder da versão tupiniquim do fascismo nos anos 1930.

Com o despertar da polêmica, a Universal passou a bloquear o acesso ao conteúdo publicado sobre os gladiadores em seus canais oficiais na internet a partir da segunda-feira 2. Ainda é possível, porém, assistir ao ritual dos gladiadores em vídeos publicados pelos próprios fiéis. Um dos mais populares mostra o bispo Edson Costa na primeira recepção ao grupo no templo em Fortaleza. Antes de dar a palavra ao bispo, o “sargento” dos gladiadores convoca a tropa para uma oração. “Graças ao Senhor, hoje estamos aqui prontos para a batalha”, bradam os jovens. Em seguida, Costa dispara: “Esses gladiadores vão nos ajudar a entrar no inferno e ganhar almas. O altar não é para criança, menino ou para quem quer brincadeira. É para quem quer lutar pelo povo, e se preciso dar a vida por ele”.

Em nota, a Universal afirma que o programa visa formar única e exclusivamente pastores. Os jovens seriam integrantes regulares da Força Jovem Universal, cuja bandeira principal é o combate às drogas. “Em sua maioria, são pessoas que pretendem retribuir à comunidade onde vivem o apoio recebido quando estavam em situação de vulnerabilidade social.”

A Força Jovem é um dos braços mais influentes da igreja, em especial pela rea­lização de grandes eventos em parceria com o poder público. O PRB, partido ligado à Universal, ocupa atualmente o Ministério do Esporte, encabeçado pelo pastor George Hilton, além das secretarias estaduais da pasta em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. O interesse do partido pelo esporte está diretamente relacionado à promoção de eventos da Força Jovem pelo País. O “Saiba Dizer Não”, evento que promove atividades desportivas e palestras antidrogas, foi sediado em importantes áreas públicas, entre elas o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e o Parque da Juventude, em São Paulo.

Sobre as suspeitas de promover um “exército fundamentalista”, a Universal garante que nenhuma prática militar é desenvolvida. “Os gladiadores assistem a aulas semanais com um pastor em que debatem e são convidados a refletir sobre aspectos do texto bíblico. Esta é a única atividade regular.” Sobre a polêmica em torno dos uniformes, a igreja afirma que as camisetas têm como função identificar os gladiadores no interior das igrejas. “Os integrantes do projeto não as utilizam fora dos templos da Universal em nenhuma atividade.” O gestual militar seria apenas uma “coreografia”, ensaiada para apresentar de forma festiva o projeto aos fiéis. Segundo a Universal, os rituais “não se repetiram mais, nem se repetirão”.

Após a publicação de Wyllys, muitos fiéis apressaram-se a defender o projeto e garantir que ele iria “arrebentar”, gíria usada pela juventude da igreja para se referir a um sucesso estrondoso. Quem acessar a página paulista do grupo no Facebook encontrará mais de mil seguidores e nenhum conteúdo publicado. Na segunda 2, havia um farto material, com textos, fotos e vídeos. Ao que parece, o projeto de fato “arrebentou”, mas na conotação negativa da expressão. No caso, a própria imagem da igreja, já bastante combalida.

Veja abaixo como são as apresentações dos Gladiadores do Altar:

https://www.youtube.com/embed/uWDyUEBrKGk

FONTE http://www.cartacapital.com.br/revista/840/o-evangelho-segundo-capitao-nascimento-6453.html

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22 Comentários

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Esse Jean Wyllis é um idiota que não faz nada pra ajudar no combate as drogas e ainda quer atrapalhar quem se propõe a fazê-lo. Enfim só luta pelos seus homoafetivos e não tem outra ocupação a não ser perseguir os evangélicos . Desequilibrio e com síndrome de perseguição ele é um retrato claro que a política brasileira vai muito mal de Deputados Federais. continuar lendo

Os líderes religiosos, independente de qual religião sejam mentores, se aproveitam da fé e, muitas vezes, da falta de informação das pessoas para incutirem nelas uma doutrina distorcida, convencendo-as que somente a mensagem que eles pregam é a verdadeira, e para qualquer outra diferente não se deve dar crédito. E todos esses líderes, independente da religião, dizem a mesma coisa: na nossa igreja é que você encontra a verdade. Creio que se Jesus voltasse à Terra novamente e visse no que o ser humano transformou Seus ensinamentos, repetiria a atitude que Ele teve no templo judaico, quando expulsou os mercadores. Sou cristão (mas não sou religioso) e procuro seguir os princípios da fé cristã, mas não aceito que esse ou aquele líder religioso dite as regras do modo de vida das pessoas como se a verdade que eles pregam fosse a única correta. continuar lendo

Eu não conheço bem o deputado Jean Wyllis, mas eu também não concordo com esta milícia da Assembleia de Deus. Acho, de fato, muito estranho. O congresso nacional tem uma bancada de evangélicos muito grande, o que eu não acho nada bom. A pessoa tem que decidir se quer ser pastor ou político. Misturar as duas coisas, não dá. O estado tem que ser laico, e com uma bancada grande de evangélicos no Congresso Nacional, fica cada vez mais difícil a desvinculação com a religião. continuar lendo

Assembleia de Deus ?? É Universal do Reino de Deus.
E se eles estão fazendo algo para ajudar a comunidade, como combater as drogas, tem o meu apoio. continuar lendo

Maria de Lourdes, com todo respeito, não vou adentrar na questão dos tais gladiadores da Universal, mas ainda assim, eu acredito que eles são bem melhores do que as milícias que atuam nos morros. Agora, em relação à bancada evangélica ser muito grande, como você afirma, é porque suas candidaturas foram aprovadas, e eles foram eleitos pelo voto direto. Isso é DEMOCRACIA. Não existe no Brasil uma cota para candidatos católicos, evangélicos, ateus, etc... Esses parlamentares evangélicos disputaram uma eleição nos moldes constitucionais e foram eleitos por seus simpatizantes. Isso é muito simples. Do mesmo modo, existem parlamentares das bancadas ruralista, feminista, empresarial, LGBT, etc, etc. Cada segmento possui seus representantes. Isso é DEMOCRACIA. Os pastores que estão no Congresso Nacional não atuam ali como pastores, mas sim, como Deputados Federais ou Senadores, de acordo com a casa legislativa. Do mesmo modo que ali também possuem policiais, professores, empresários, ex-jogadores de futebol, médicos, advogados, etc. etc, Isso é DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. E todos, eu disse todos os brasileiros, sem distinção de qualquer natureza, inclusive religiosa, devem SIM, se MISTURAR com política, pois são cidadãos como qualquer outro. Até. continuar lendo

A reportagem nem cita a Assembleia de Deus.
E quanto a bancada evangélica, bem, são eleitos com votos do povo, logo deve ter gente que gosta e apoia. Como estamos numa democracia, o negócio é respeitar. continuar lendo

Milícia é um termo muito forte e sem fundamento Srª Maria de Lourdes. Milícia é outra coisa bem diferente "Milícia é a designação genérica das organizações militares ou paramilitares compostas por cidadãos comuns, armados ou com poder de polícia que teoricamente não integram as forças armadas de um país."
Por tanto utilize outro termo sob pena de quem se sentir ofendido de processar a Srª , não sou eu que vou fazê-lo mais outros poderão.
Não faço parte desta religião, mas acredito que todo esforço para retirar os jovens do caminho das drogas é viável.
A senhora já ouviu falar dos escoteiros? Pois é, eles também andam "fardados" pregam valores e não são Milicianos.
A sociedade tem que se rebelar é contra os traficantes e políticos corruptos deste país. continuar lendo

Eu sou evangélico e crítico da Universal por discordância. Agora dizer que vão formar milícia e que os cristãos são fundamentalistas comparando-nos ao Estado Islâmico é safadeza disfarçada de intelectualidade.
Jean só quer perseguir os evangélicos e fala em respeito a diversidade? Incoerente demais!
Por mais que nós tenhamos nossas crenças e sejamos contra muitas coisas.
Quando foi que vocês viram cristãos de verdade matar, agredir ou ofender um homossexual em público?
Nós falamos de Deus para eles com respeito e oferecemos uma mudança de vida para quem quer!
Ninguém fez guerra após a autorização do Casamento Civil homo-afetivo e nessa semana o STF autorizou a adoção de uma criança por um casal gay.
Já a Daniela Mercury disse que a sociedade precisa se livrar de quem não aceita isso. Já que para ela, essas pessoas seriam homofóbicas e inúteis a sociedade. Agora, cadê que alguém critica ela? continuar lendo